sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mudanças Climáticas, artigo de Aroldo Cangussu

Após a ocorrência da tragédia que arrasou as cidades serranas do Rio de Janeiro, a discussão sobre as alterações do clima terrestre recrudesceram. A maior parte dos cientistas do mundo inteiro acredita que estamos passando, realmente, por um período perigoso de aumento do efeito estufa com as seguintes conseqüências: derretimento das geleiras e elevação do nível do mar e salinização, potencialização das secas e enchentes, desertificação, reaparecimento de doenças e eventos naturais de grandes proporções.

Mas, existe outra parcela considerável de cientistas que contestam estes fatos alegando que o fenômeno é cíclico e absolutamente natural. Há, inclusive, pesquisadores que contestam uma por uma as afirmações catastróficas de que o mundo estaria passando por uma fase terminal.

Quem estará com a verdade? Assistimos, interessados no assunto, angustiados essa discussão e aguardamos em vão uma palavra definitiva. Infelizmente, este é um assunto de extrema complexidade em que são envolvidos um conjunto enorme de fatores e dependente de análises rigorosíssimas e exatas.

Na minha opinião, uma coisa me parece perfeitamente detectável: o modelo de desenvolvimento estabelecido já não se sustenta mais no nosso planeta. O aumento desenfreado do consumo da nossa sociedade aponta para um futuro extremamente difícil. A exploração continuada dos recursos naturais, a produção exponencial de lixo, a emissão gigantesca de gases nocivos para a atmosfera e o crescimento desproporcional da população encaminham a humanidade para dias consideravelmente penosos.

É claro que o homem já deu demonstrações de que é capaz de se superar e enfrentar com êxito as suas dificuldades. Existem modernas técnicas de engenharia que suportam melhor o desafio de exploração mineral com sustentabilidade que proporcionam incrementos significativos nas jazidas. Os equipamentos emissores atmosféricos já conseguem ser mais limpos. O uso de carros elétricos é uma das possibilidades que se avizinham com o objetivo de melhorar o ar que respiramos e diminuir o lançamento de CO2. Com relação ao aumento desordenado da população mundial, alguns sinais estão sendo dados no sentido positivo: na maioria dos países, as mulheres estão tendo menos filhos que as suas antecessoras, o que pode ser auspicioso e a favor do planeta.

Precisamos ser cautelosos e não nos deixarmos levar por previsões apocalípticas, mas, deveremos agir com firmeza nas nossas atividades diárias e fazer o pouco que nos é possível para a preservação do meio ambiente, cuidando do lixo, economizando água e energia, andando mais a pé e sendo mais solidários.

* Aroldo Cangussu é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.
EcoDebate, 04/02/2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Preservação florestal torna-se tema central da ONU em 2011

Maior reserva de floresta tropical do mundo está em solo brasileiro
Diante do cenário ambiental crítico, o desafio da ONU é aproximar cidadãos do mundo todo em torno de um projeto comum: preservar a mata, que cobre só 31% das terras do planeta. Maior reserva verde ainda está no Brasil.

O planeta deve registrar ainda em 2011 a marca de 7 bilhões de habitantes. À medida que a população se expande – e exige cada vez mais recursos naturais e espaço no globo –, a cobertura florestal se extingue. Atualmente, as florestas ocupam apenas 31% das áreas de terra do planeta.

É também em 2011 que as Nações Unidas decidiram promover o Ano Internacional das Florestas. Nesta quarta-feira (02/02), uma sessão em Nova York marca o início das atividades para “promover a consciência e fortalecer uma gestão, conservação e desenvolvimento sustentável”, diz o órgão. O desafio, no entanto, é transformar essa aspiração em soluções práticas e estimular o envolvimento dos cidadãos que vivem nas cidades.
Queimada e derrubada ilegal em Madagascar, na África
Na prática as Nações Unidas estimam que 1,6 bilhão de pessoas dependam das florestas para sobreviver e que, no mundo todo, as matas sejam a casa de 300 milhões de indivíduos. Esse ambiente é o habitat de 80% da biodiversidade existente no planeta.

Apesar dos argumentos convincentes lançados pela ONU para estimular a preservação, o desmatamento ainda é um inimigo presente na busca pelo desenvolvimento sustentável. Um estudo da organização Conservação Internacional (CI) divulgado nesta quarta-feira, identificou as dez florestas mais ameaçadas do mundo – o Brasil aparece na lista com os apenas 8% que restaram da Mata Atlântica.

“As florestas não podem ser vistas apenas como um grupo de árvores, mas como fornecedores de benefícios vitais. Elas são importante fator econômico no desenvolvimento de diversas cidades, fornecendo madeira, alimento, abrigo e recreação, e possuem um potencial ainda maior que precisa ser percebido em termos de provisão de água, prevenção de erosão e remoção de carbono”, argumenta Olivier Langrand, da CI.

A derrubada da floresta também agrava os efeitos das mudanças climáticas, e é responsável por até 20% das emissões mundiais de gases do efeito estufa.

Reportagem da Agência Deutsche Welle, publicada pelo EcoDebate, 03/02/2011

Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global é desenvolvido para que o país se prepare para enfrentar os fenômenos extremos

Clima sob o olhar do Brasil – Nos modelos climáticos globais divulgados no mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), divulgado em 2007, o Pantanal e o Cerrado são retratados como se fossem savanas africanas.

Já fenômenos como as queimadas, que podem intensificar o efeito estufa e mudar as características de chuvas e nuvens de uma determinada região, por exemplo, não são caracterizados por não serem considerados relevantes para os países que elaboraram os modelos numéricos utilizados.

Para dispor de um modelo capaz de gerar cenários de mudanças climáticas com perspectiva brasileira, pesquisadores de diversas instituições, integrantes do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Mudanças Climáticas (INCT-MC), estão desenvolvendo o Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG.

Com conclusão estimada para 2013, o MSBCG deverá permitir aos climatologistas brasileiros realizar estudos sobre mudanças climáticas com base em um modelo que represente processos importantes para o Brasil e que são considerados secundários nos modelos climáticos estrangeiros.

“Boa parte desses modelos internacionais não atende às nossas necessidades. Temos muitos problemas associados ao clima em virtude de ações antropogênicas, como as queimadas e o desmatamento, que não são retratados e que agora serão incluídos no modelo que estamos desenvolvendo no Brasil”, disse Gilvan Sampaio de Oliveira, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos pesquisadores que coordena a construção do MBSCG.

Segundo ele, o modelo brasileiro incorporará processos e interações hidrológicas, biológicas e físico-químicas relevantes do sistema climático regional e global. Dessa forma, possibilitará gerar cenários, com resolução de 10 a 50 quilômetros, de mudanças ambientais regionais e globais que poderão ocorrer nas próximas décadas para prever seus possíveis impactos em setores como agricultura e energia.
“Com esse modelo, teremos capacidade e autonomia para gerar cenários futuros confiáveis, de modo que o país possa se preparar para enfrentar os fenômenos climáticos extremos”, disse Sampaio à Agência FAPESP.

A primeira versão do modelo brasileiro com indicações do que pode ocorrer com o clima no Brasil nos próximos 50 anos deverá ficar pronta até o fim de 2011.

Para isso, os pesquisadores estão instalando e começarão a rodar em fevereiro no supercomputador Tupã, instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), em Cachoeira Paulista (SP), uma versão preliminar do modelo, com módulos computacionais que analisam os fenômenos climáticos que ocorrem na atmosfera, no oceano e na superfície terrestre.

Os módulos computacionais serão integrados gradualmente a outros componentes do modelo, que avaliarão os impactos da vegetação, do ciclo de carbono terrestre, do gelo marinho e da química atmosférica no clima. Em contrapartida, um outro componente apontará as influências das mudanças climáticas em cultivares agrícolas como a cana-de-açúcar, soja, milho e café.

“No futuro, poderemos tentar estimar a produtividade da cana-de-açúcar e da soja, por exemplo, frente ao aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”, disse Sampaio.

Classe IPCC

Segundo o cientista, como a versão final do MSBCG só ficará pronta em 2013, o modelo climático brasileiro não será utilizado no próximo relatório que o IPCC divulgará em 2014, o AR-5. Mas o modelo que será utilizado pelo Painel Intergovernamental para realizar as simulações do AR5, o HadGEM2, contará com participação brasileira.

Por meio de uma cooperação entre o Hadley Center, no Reino Unido, e o Inpe, os pesquisadores brasileiros introduziram no modelo internacional módulos computacionais que avaliarão o impacto das plumas de fumaça produzidas por queimadas e do fogo florestal sobre o clima global, que até então não eram levados em conta nas projeções climáticas.

Com isso, o modelo passou a ser chamado HadGEM2-ES/Inpe. “Faremos simulações considerando esses componentes que introduzimos nesse modelo”, contou Sampaio.

Em 2013, quando será concluída a versão final do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global, o sistema ganhará um módulo computacional de uso da terra e outro metereológico, com alta resolução espacial. No mesmo ano, também serão realizadas as primeiras simulações de modelos regionais de alta resolução para a elaboração de um modelo climático para América do Sul com resolução de 1 a 10 km.
“Até hoje, levávamos meses e até anos para gerar cenários regionais. Com o novo sistema de supercomputação os esforços em modelagem climática regional ganharão outra escala”, afirmou Sampaio.

Leia reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP sobre o modelo climático brasileiro.

Reportagem de Elton Alisson, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 03/02/2011

Geografia - Élisée Reclus

Mata Atlântica é a quinta floresta mais ameaçada do mundo, diz Conservação Internacional

Parque nacional da Serra dos Órgãos (RJ) – Foto: BBC Brasil
Um ranking divulgado nesta quarta-feira pela entidade ambiental Conservação Internacional indica que a Mata Atlântica é a quinta floresta mais ameaçada do mundo.

A lista enumera o que a organização considera ser as dez regiões florestais mundiais que enfrentam os maiores riscos.

Segundo a ONG, a posição da Mata Atlântica na quinta colocação se justifica porque restam apenas 8% da cobertura original da floresta, que antes ocupava boa parte da costa brasileira.

A organização afirma que a floresta ”abriga 20 mil espécies de plantas, sendo 40% delas endêmicas. Ainda assim, menos de 10% da floresta permanece de pé”.
Perigo

O relatório da Conservação Internacional diz ainda que mais de duas dúzias de espécies de vertebrados criticamente em perigo de extinção estão lutando para sobreviver na Mata Atlântica.

Entre as espécies listadas estão seis espécies de aves que habitam uma pequena faixa da floresta no Nordeste.

De acordo com a Conservação Internacional, um dos motivos para o desmatamento acentuado que a floresta vem sofrendo é a ”crescente urbanização e industrialização do Rio de Janeiro e de São Paulo”.

A floresta brasileira ficou atrás de regiões da Índia e de Mianmar que só contam com 5% de seu bioma original.

Também estão mais ameaçadas do que a Mata Atlântica uma área da Nova Zelândia que só mantém 5% de sua cobertura original; outra, situada entre a Indonésia, a Malásia e o Brunei, que só preserva 7% do que já possuiu, e outra nas Filipinas, também com 7% da cobertura original.

O relatório foi divulgado nesta quarta-feira para coincidir com o anúncio oficial pela ONU do Ano Internacional de Florestas.

Reportagem da BBC Brasil, publicada pelo EcoDebate, 03/02/2011