Clima sob o olhar do Brasil – Nos modelos climáticos globais
divulgados no mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC), divulgado em 2007, o Pantanal e o Cerrado
são retratados como se fossem savanas africanas.
Já fenômenos
como as queimadas, que podem intensificar o efeito estufa e mudar as
características de chuvas e nuvens de uma determinada região, por
exemplo, não são caracterizados por não serem considerados relevantes
para os países que elaboraram os modelos numéricos utilizados.
Para
dispor de um modelo capaz de gerar cenários de mudanças climáticas com
perspectiva brasileira, pesquisadores de diversas instituições,
integrantes do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas
Globais, da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais
(Rede Clima) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre
Mudanças Climáticas (INCT-MC), estão desenvolvendo o Modelo Brasileiro
do Sistema Climático Global (MBSCG.
Com
conclusão estimada para 2013, o MSBCG deverá permitir aos
climatologistas brasileiros realizar estudos sobre mudanças climáticas
com base em um modelo que represente processos importantes para o Brasil
e que são considerados secundários nos modelos climáticos
estrangeiros.
“Boa parte desses modelos internacionais não atende
às nossas necessidades. Temos muitos problemas associados ao clima em
virtude de ações antropogênicas, como as queimadas e o desmatamento,
que não são retratados e que agora serão incluídos no modelo que
estamos desenvolvendo no Brasil”, disse Gilvan Sampaio de Oliveira,
pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos pesquisadores
que coordena a construção do MBSCG.
Segundo ele, o modelo
brasileiro incorporará processos e interações hidrológicas, biológicas e
físico-químicas relevantes do sistema climático regional e global.
Dessa forma, possibilitará gerar cenários, com resolução de 10 a 50
quilômetros, de mudanças ambientais regionais e globais que poderão
ocorrer nas próximas décadas para prever seus possíveis impactos em
setores como agricultura e energia.
“Com esse modelo, teremos
capacidade e autonomia para gerar cenários futuros confiáveis, de modo
que o país possa se preparar para enfrentar os fenômenos climáticos
extremos”, disse Sampaio à Agência FAPESP.
A
primeira versão do modelo brasileiro com indicações do que pode ocorrer
com o clima no Brasil nos próximos 50 anos deverá ficar pronta até o
fim de 2011.
Para isso, os pesquisadores estão instalando e começarão a rodar em fevereiro no supercomputador Tupã,
instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC),
em Cachoeira Paulista (SP), uma versão preliminar do modelo, com
módulos computacionais que analisam os fenômenos climáticos que ocorrem
na atmosfera, no oceano e na superfície terrestre.
Os módulos
computacionais serão integrados gradualmente a outros componentes do
modelo, que avaliarão os impactos da vegetação, do ciclo de carbono
terrestre, do gelo marinho e da química atmosférica no clima. Em
contrapartida, um outro componente apontará as influências das mudanças
climáticas em cultivares agrícolas como a cana-de-açúcar, soja, milho e
café.
“No futuro, poderemos tentar estimar a produtividade da
cana-de-açúcar e da soja, por exemplo, frente ao aumento da concentração
de gases de efeito estufa na atmosfera”, disse Sampaio.
Classe IPCC
Segundo
o cientista, como a versão final do MSBCG só ficará pronta em 2013, o
modelo climático brasileiro não será utilizado no próximo relatório que
o IPCC divulgará em 2014, o AR-5. Mas o modelo que será utilizado pelo
Painel Intergovernamental para realizar as simulações do AR5, o
HadGEM2, contará com participação brasileira.
Por meio de uma
cooperação entre o Hadley Center, no Reino Unido, e o Inpe, os
pesquisadores brasileiros introduziram no modelo internacional módulos
computacionais que avaliarão o impacto das plumas de fumaça produzidas
por queimadas e do fogo florestal sobre o clima global, que até então
não eram levados em conta nas projeções climáticas.
Com isso, o
modelo passou a ser chamado HadGEM2-ES/Inpe. “Faremos simulações
considerando esses componentes que introduzimos nesse modelo”, contou
Sampaio.
Em 2013, quando será concluída a versão final do Modelo
Brasileiro do Sistema Climático Global, o sistema ganhará um módulo
computacional de uso da terra e outro metereológico, com alta resolução
espacial. No mesmo ano, também serão realizadas as primeiras
simulações de modelos regionais de alta resolução para a elaboração de
um modelo climático para América do Sul com resolução de 1 a 10 km.
“Até
hoje, levávamos meses e até anos para gerar cenários regionais. Com o
novo sistema de supercomputação os esforços em modelagem climática
regional ganharão outra escala”, afirmou Sampaio.
Leia reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP sobre o modelo climático brasileiro.
Reportagem de Elton Alisson, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 03/02/2011
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