domingo, 6 de junho de 2010

Pesquisa revela Pré-história de mamíferos em Ubajara



Regional - Pesquisa revela Pré-história de mamíferos em Ubajara - Diário do Nordeste Dissertação

Pesquisa revela Pré-história de mamíferos em Ubajara

Paleontólogo Paulo Víctor descobriu, no Parque Nacional de Ubajara, subsídios para pesquisa de mestrado

Sobral Com objetivo de promover o conhecimento da história evolutiva dos mamíferos do Período Neopleistoceno-Holoceno (Holoceno: época do período Quartenário da era Cenozóica do Fanezóico que se iniciou há cerca de 11.500 anos e se estende até o presente. Inicia-se com o fim da última era glacial principal, ou Idade do Gelo), depositados nas cavernas do Parque Nacional de Ubajara, o paleontólogo Paulo Víctor de Oliveira, de Sobral, promoveu uma série de visitas às grutas do parque, na busca de material que pudesse lhe render, por meio da prospecção, motivação para uma dissertação de mestrado.


Estudante do Instituto de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou seu trabalho de pesquisa a partir de dados levantados por material coletado por estudiosos, sobre espécies que viveram na Pré-história e que hoje se encontram depositados nas coleções do Museu de Pré-História de Itapipoca (Muphi), do Laboratório de Paleontologia (Labopeleo), da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), e no Museu Dom José em Sobral.


Paulo Víctor foi um dos estudantes-pesquisadores que fez parte do grupo co-liderado pela bióloga e paleontóloga da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Ana Maria Ribeiro. Trata-se de uma das cientistas mais experientes em mamíferos fósseis do Brasil. Os objetos foram retirados durante visitação entre os anos de 2008 e 2009.


A equipe de pesquisadores envolvida nos trabalhos de prospecção paleontológica nas grutas de Ubajara foi composta pelos paleontólogos: Ana Maria Ribeiro, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZBRS); Gisele Mendes Lessa, da Universidade Federal de Viçosa/Minas Gerais; Somália Viana, da UVA; Celso Lira Ximenes, do Muphi; além da bióloga do ICMBio/Ibama de Ubajara, Nágila Pereira e do curador da coleção científica do Muphi, Sílvio Teixeira. "Esta equipe de pesquisadores, formada por profissionais de diversas instituições nacionais, foi de grande importância para o bom desempenho das pesquisas. Iniciamos os trabalhos de cunho paleontológico na região de Ubajara a pouco mais de um ano", contou o paleontólogo Paulo Víctor.


Ele lembra que o trabalho faz parte de um projeto de dissertação e foi realizado em um ano e meio, aproximadamente, desde a parte do campo, a coleta, a preparação, até a confecção da dissertação e a sua defesa. "Foi por meio de um trabalho iniciado em 2005 que veio o interesse em fazer mestrado na Universidade do Rio Grande do Sul".


As pesquisas nesta região do Ceará começaram no ano de 1978, numa expedição da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), que encontrou um crânio fossilizado de um animal com dois caninos proeminentes, ao explorar uma das cavernas do Parque. Sua identificação revelou que o crânio pertenceu a uma espécie de urso, já extinta na região, com idade calculada em 10 mil anos. A presença de um urso confirma que a Serra de Ibiapaba já teve um clima bem mais frio no passado. Parentes dessa espécie de urso ainda sobrevivem nos Andes. O local da descoberta passou a ser conhecido como Gruta do Urso Fóssil.


Fechada à visitação pública, a pequena gruta de apenas 130 metros é importante devido aos fósseis de animais encontrados em seu interior. Hoje integra o complexo de 14 cavernas catalogadas em Ubajara pela SBE. Apenas a gruta de Ubajara é aberta à visitação. O acesso é por teleférico, de onde há uma vista panorâmica deslumbrante. As visitas são monitoradas pelo Ibama.


"Fui à busca de mais informação que me ajudassem na minha dissertação científica, baseado na informação da descoberta numa das 14 grutas existente ali, do crânio e da mandíbula de um urso fóssil que deu o nome à concavidade subterrânea", disse Paulo Víctor. De acordo com ele, merece destaque nesse trabalho o objetivo de coletar amostras de sedimentos para datação por termoluminescência e carbono 14.


No Brasil, os estudos paleontológicos em cavernas datam de Século XIX. Com os trabalhos pioneiros de Peter Lund, na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, e de Florentino Ameghino, na região de Iporanga, São Paulo. Atualmente os trabalhos desta natureza têm-se intensificado principalmente nas regiões do Sudeste do País.


No Ceará merece destaque o relevo cárstico do Parque Nacional de Ubajara que abriga um conjunto significado de 14 cavernas, conhecidas até o momento. A Geologia e Espeleologia deste relevo têm sido os principais objetos de estudos da maioria dos trabalhos científicos já realizados na região. Por outro lado, são poucos os trabalhos de cunho paleontológico.


Levantamentos feitos por especialistas neste assunto apontam que, até então, só existia ocorrência de fósseis no Estado do Ceará na Chapada do Araripe, região Sul do Estado, e, nos chamados depósitos de tanques. Nesses "habitats" são comuns serem encontrados fósseis de mamíferos gigantes como, por exemplo, a preguiça e o tatu gigantes, entre outros. "No Ceará o único complexo espélico de cavernas mais significativas é o que se encontra na região de Ubajara", descreve.


Ele lembra que, até agora, o único trabalho divulgado ligado ao tema foi em 1994, do crânio do um urso, coletado em 1978 e que se encontra no Museu de Geociência da Universidade de São Paulo. "Este trabalho foi descrito e publicado por duas pesquisadoras. Outro trabalho que merece destacar é um pequeno resumo que fala de ocorrências de ossos de mamíferos e de outros vertebrados nessas cavernas".


O relevo cárstico de Ubajara é formado por nove morros calcários que afloram e se destacam na paisagem da encosta da Cuesta da Ibiapaba. O conjunto espélico como um todo é, até o momento, formado por essas cavernas todas catalogadas e mapeadas. O parque abriga sete dos nove morros calcários, nos quais se distribuem dez cavidades, estando as demais fora dos seus limites, porém, na sua área de influência direta.


A região de Ubajara abriga o mais expressivo complexo espélico (conjunto de cavernas ou grutas) do Ceará. Apresenta sua geologia e geomorfologia muito bem estudadas, o que contrasta com a escassez de dados paleontológicos. Devido a isto e como as cavernas representam bons ambientes de acúmulo de sedimentos e de restos de ossos formou-se uma equipe de pesquisadores do Ceará, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais para estudar a paleontologia da área do Parque Nacional de Ubajara. Para a paleontóloga Somália Viana, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, "o trabalho nas cavernas é extremamente difícil e demorado, mas é, ao mesmo tempo, recompensador quando encontramos respostas reveladoras do passado que buscávamos. A possibilidade de datação nas cavernas de Ubajara nos assegura o tempo certo da vida desses antigos mamíferos na região".


O trabalho realizado em Ubajara recebeu auxílio financeiro do CNPq e da Funcap.


Fique por dentro
Parque Nacional
: O Parque Nacional de Ubajara foi criado em 1959 para preservar a famosa Gruta de Ubajara e também a fauna e flora dos ecossistemas de Caatinga e mata úmida, que formam um ambiente de transição na Serra da Ibiapaba. Lá, a vegetação varia desde a Caatinga do Cerrado até espécies da Floresta Equatorial. Existem várias trilhas no parque onde é possível encontrar cachoeiras, rios para banho, e formas variadas de vegetação. Uma das atrações do local são as cavernas existentes lá.



Wilson Gomes 
Colaborador

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