quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Tragédia Das Águas, artigo de Maria Lindgren

Publicado em janeiro 19, 2011 por HC
 
[EcoDebate] O verão, esta época danada para quem mora em país tropical, chegou com ar estranho. Força menor de calor do que no final da primavera e chuva. Em plenas festas de fim de ano, o receio de chuvarada, raios e trovões sondava o ambiente. A chegada do Menino-Deus, causadora sem nenhuma culpa de desvarios das classes medias, venceu as ameaças das nuvens. O Réveillon de Copacabana, ameaçado de ter seus fogos de artifício conspurcados, saiu melhor do que a encomenda. A igreja da Penha se iluminou e encheu de piedosos, agradecidos pela paz no bairro e adjacências. Uma alegria.

Mas, o mês de janeiro, obedecendo aos comandos de nossa impiedosa mãe-natureza, logo que acabou a farra quase obrigatória de muitos, mostrou que não se brinca impunemente com o tempo: nossa bela Região Serrana, logo no dia 11, foi literalmente inundada. Verdadeiro tsunami de água doce.



A televisão, sempre cheia de cócegas para contar tragédia, não se contentara com as imagens aflitivas das cheias do rio Tietê e outros de São Paulo, de triste celebridade, devido ás águas superabundantes das enchentes. Mal deixara de lado as vozes, os tiros e outros ruídos beligerantes do afamado local de traficantes de drogas do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão, “pacificado” a ferro e fogo pelas Forças Armadas brasileiras, fixou suas câmeras e seus comentários em outras paragens, episódios trágicos costumeiros, no próprio estado que a sedia. Um assassinato aqui, um transbordamento de gente nas cadeias ali, um assalto a transeunte ou acidente do trânsito acolá… E deu-se a repetição dos borbotões de chuva a arras ar a bela Região Serrana, como o havia feito com a não menos bela região praiana de Angra dos Reis, em 2010, e com Niterói, não tão bela assim.

Mais uma vez, um absurdo de avalanches despencou dos morros, fez transbordar os poéticos “ rios de minha aldeia”, como dizia Fernando Pessoa, invadiu casas de pobre e de rico. Porque aqui no nosso estado não escaparam as mansões, construídas sem a inspeção cautelosa do solo como qualquer casebre de pobres. Dizem que algumas residências foram feitas por cima de um charco em Itaipava, Petrópolis, do mesmo modo que os mais necessitados no lixão de Niterói. Não sei.

Os comentaristas das universidades, de plantão imediato nessas horas sofridas, inundaram os canais de comentários sabidos sobre o que deveria ter sido feito e não o foi.

- O desconhecimento do terreno onde se constroi é uma das piores causas.

- As margens dos rios, desmatadas sem a inspeção necessária, some com os anteparos para a força das águas.

- Os monturos de lixo, jogados a esmo pela população mal-educada, causam obstrução dos bueiros e outras vias de escoamento nas cidades.

– A necessidade de moradia para os pobres não os faz cautelosos com seus locais de construção de casas e o fazem em zonas de risco.

- As prefeituras não dão contam dos serviços de prevenção às enchentes, não me perguntem por que. (Aqui os entrevistadores do partido no poder fazem o possível para não culpar os governos; um ou outro deixa escapar uma queixa.)

E tome de enxurrada e tome de horror, de gente morta e de feridos. Para desespero da gente que perdeu tudo e, muitas vezes, toda a família. E para o nosso, telespectadores-cidadãos, por nos sentirmos sem armas para livrar-nos de tudo isso.

Até quando, Deus Meu!!!!!!!

Maria Lindgren é escritora, ex-professora e educadora do Estado do Rio de Janeiro

Fonte:  EcoDebate, 19/01/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário