[Repórter Eco]
É incompreensível a recusa do setor de energia do governo federal, de
dialogar com a sociedade e cientistas a respeito da necessidade – ou não
– de implantar novas grandes hidrelétricas no país, principalmente na
Amazônia.
Muitos estudos científicos dizem que o país pode tranquilamente
economizar até 30 por cento da energia que consome hoje, com programas
de conservação e eficiência – tal como fez no “apagão” de 2001. Pode
ganhar 10 por cento reduzindo as perdas nas linhas de transmissão, hoje
em 17 por cento. E pode repotenciar a baixo custo geradores antigos de
hidrelétricas, ganhando mais 10 por cento. Mas esses caminhos não são
sequer discutidos.
Enquanto isso, insiste-se na implantação da hidrelétrica de Belo
Monte, no rio Xingu, a um custo astronômico que sequer se sabe qual é.
Sem ter certeza de qual será a capacidade de geração de energia no
período seco. Cavando um canal maior que o do Panamá. Prejudicando
comunidades ribeirinhas e indígenas. E tudo sem explicar a quem servirá
essa energia.
Nas últimas semanas, cresceram os protestos em várias partes do país.
Um painel de especialistas mostrou a inconsistência do projeto,
classificado na revista do Instituto de Engenharia de “vergonhoso”. A
Ordem dos Advogados do Brasil também o condenou, principalmente por
haver o Ibama inventado uma figura que não existe na legislação – uma
licença parcial para desmatar 240 quilômetros quadrados de floresta,
antes de haverem sido cumpridas dezenas de condicionantes para o início
de obras.
E não é só. O setor federal de energia programa várias outras
hidrelétricas na Amazônia, principalmente nos rios Teles Pires e
Tapajós, várias delas envolvendo problemas com terras indígenas e áreas
de preservação permanente. A sociedade e os cientistas deveriam merecer
mais consideração.
Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter
Eco. Foi consultor do primeiro relatório nacional sobre biodiversidade.
Participou das discussões para a Agenda 21 brasileira. Dirigiu vários
documentários, entre eles a série famosa “Xingu” e, mais recentemente,
“Primeiro Mundo é Aqui”, que destaca a importância dos corredores
ecológicos no Brasil.
Artigo originalmente publicado no Repórter Eco.
Fonte: Eco Debate
Nenhum comentário:
Postar um comentário