quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Devastação da Ibiapaba começou na década de 60.


A partir da década de 60, a mata foi intensamente devastada tendo como um dos principais vilões a substituição do café de sombra do Oceano Atlântico, estendendo-se na direção Sul até encontrar os confortes da Serra Negra, no Piauí, e Joaninha no Ceará.

Depois, o café entrou em declínio, prevalecendo a cana-de-açúcar e hortifrutigranjeiros, não havendo

recuperação das áreas atingidas. Hoje restam apenas alguns remanescentes de mata úmida, mata atlântica, 'ilhas' fragmentadas em todo o cinturão verde.

Em novembro de 1996, através de decreto federal, foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ibiapaba, com o objetivo de proteger os ecossistemas de mata atlântica, caatinga e cerrado, beneficiando seis municípios do Ceará e vinte do Piauí. Apesar do decreto, a APA da Ibiapaba contempla apenas dois municípios da região - Viçosa do Ceará (100%) e Tianguá (60%). O fato é atribuído a um "lobby" político e econômico, liderado por empresas multinacionais que comercializam agrotóxicos que sentiram a ameaça de perda do mercado, ficando de fora os municípios de São Benedito, Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Croata, Ubajara e Ibiapina.

 “Nessa área de proteção o uso de agrotóxicos tem que ser racional, através de receituário agronômico. A partir deste ano, serão feitas campanhas de conscientização dos proprietários rurais e a autuação dos infratores", garante o gerente da APA Sebastião Soares.

O presidente da Fundação Ecológica da Região da Ibiapaba (Funeci), engenheiro-agrônomo Laércio Chiarine, destaca que o município de Guaraciaba do Norte tem grandes áreas devastadas, justamente por concentrar o maior número de hortas, sendo também o maior consumidor de agrotóxico. Depois vem Carnaubal, devido ao terreno arenoso, de carrasco.

Os problemas da APA e do Parque são os mesmos de toda a região da Ibiapaba: uso abusivo de agrotóxicos, queimadas, uso inadequado do solo, falta de um destino adequado do lixo, caça e comércio ilegal de animais silvestres, falta de conscientização ambiental e o mau gerenciamento dos recursos hídricos

O gerente da APA, Sebastião Soares, destaca que muitas nascentes e rios estão desaparecendo, em função do desmatamento das matas ciliares; e muitos rios que eram perenes, hoje são temporários.

Laércio Chiarini, explica que o ideal seria a preservação das matas ciliares com quinze metros de cada lado, para evitar o assoreamento. Enfatiza que a Funeci tem trabalhado para evitar a devastação, mas esta é flagrante em toda a região.

Um dos casos mais graves, na área de recursos hídricos, ocorre com o riacho Ninga, no sitio São José, em Ibiapina, que está poluído e em processo de assoreamento. Na mesma situação, encontram-se os riachos Jaburu, em Ubajara; e Ipuçaba, chegando este último a comprometer a queda d'água da famosa Bica do Ipu.

Órgãos não dispõem de pessoal para fiscalização

A APA da Ibiapaba compreende uma área de 1milhão 592 mil hectares, com abrangência nos municípios de Tianguá, Viçosa do Ceará, Uruoca, Moraújo, Granja e Chaval, além de outras 20 cidades, no Piauí.

A fiscalização no Piauí tem como base o pessoal do Parque de Sete Cidades. No Ceará é feita com apoio do Parque Nacional de Ubajara, que, por sua vez, dispõe somente de um agente de defesa florestal. O gerente do Parque Nacional de Ubajara, Emanuel Barreto, enfatiza que o IBAMA está destinando quatro fiscais para a APA e mais quatro para o Parque, o que vai melhorar a eficiência deste tipo de trabalho.

 “Em função do reduzido número de funcionários, a fiscalização é feita através das denúncias que chegam freqüentemente ao IBAMA. A meta é atender a todos que nos procuram, mas nem sempre é possível. Há um plano da Secretaria de Segurança Pública e Defesa da Cidadania do Ceará, de implantar um pelotão da Companhia de Polícia Ambiental (CPMA) na região", destaca.

Emanuel Barreto acrescenta que as gerências da APA e do Parque iniciaram em 2000 a implantação de um projeto de educação ambiental na rede municipal de ensino, em parceria com as Prefeituras, capacitando diretores e professores, como forma de conseguir uma maior adesão da comunidade na preservação do meio ambiente.

Com isso, já foram atendidos Viçosa do Ceará, Ibiapina, Ubajara e Tianguá. O gerente da APA, Sebastião Soares, coloca, por sua vez, que também está sendo feito a articulação com os municípios para a implantação de Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente.

Proprietários rurais com áreas ainda bem conservadas, estão sendo incentivados a criar Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), sendo que a Cachoeira da Floresta, de propriedade do Hotel Serra Grande, deverá ser a primeira RPPN da Ibiapaba. A Funeci também trabalha na área de preservação, propondo a criação de Parques Municipais.

Região tem potencial para a agricultura

Em função do clima, que não apresenta os parâmetros típicos do semi-árido, e da ocorrência de solos de boa aptidão agrícola, a Ibiapaba constitui-se numa zona de grande potencialidade econômica do estado do Ceará. O movimento de hortigranjeiros, em 2000, no Mercado do Produtor - Mepro, localizado em Tianguá, somou 43.109,6 toneladas, apresentando um substancial crescimento em relação a 1999, com uma receita total de R$ 215.634,65.

As principais culturas comercializadas foram o tomate e o maracujá, com destaque para os municípios de Tianguá e Ubajara. A região vem sendo procurada, no momento, para a introdução de culturas nobres, destacando-se o plantio de rosas em Inhuçu, São Benedito, através de uma empresa gaúcha. Holandeses e japoneses mostram-se igualmente interessados nesta atividade econômica.

A experiência de Inhuçu é um projeto piloto para produção em escala comercial para o Brasil e o mercado exterior.

A expectativa, segundo informações da Secretaria de Agricultura Irrigada, que apóia o projeto, é de que sejam produzidas 200 rosas por metro quadrado. A produtividade é bem superior a alcançada pelos colombianos (90 rosas/m²) e até a do maior produtor nacional (150 rosas/m²).

O plantio inicial é de 1,2 hectares, mas o projeto total contempla uma área de 20 hectares. Outros investimentos estão sendo implementados na região, com destaque para Guaraciaba do Norte, com a agricultura orgânica, o cultivo de hortaliças sem o uso de agrotóxicos; o café ecológico; e a instalação de fábrica de uma empresa americana, em Tianguá, para beneficiamento da acerola.

Em meio a este quadro de mudanças, vale destacar a resistência dos engenhos na produção de cachaça e de rapadura em 'tijolo', como a que é produzida em Ibiapina, no sítio São José dos Caboclos, onde 'seu' Chico Cesário produz quinze cargas por dia, cada uma com trinta quilos ao preço de R$ 20,00. Ele reclama do lucro, que considera dos mais baixos, mas explica que tem vinte anos neste setor "e ninguém pode viver sem trabalhar".


Mesmo com todos os atrativos naturais, o fluxo turístico na Ibiapaba não é considerado dos melhores. O empresário Antônio Valdir Araújo, Pousada Inhuçu, em São Benedito, destaca que a movimentação ocorre apenas nos meses de janeiro e julho, carnaval, semana santa e feriados prolongados, ficando hotéis e pousadas praticamente vazios nos demais meses.

 “A rede hoteleira da Ibiapaba vive da alta estação. Os turistas reclamam das péssimas condições da BR 222, no acesso de Fortaleza para Tianguá", coloca Araújo, acrescentando que a Pousada tem uma atração a mais, que é a cerração, o frio nas noites de inverno, quando a temperatura chega 15ºC e 16ºC. "Tem gente que levanta às 5 horas da manhã para ver a cerração, tudo fica fechado, sendo preciso o uso de agasalhos. Depois de Guaraciaba do Norte, que fica a 940 metros de altitude, vem Inhuçu com 898 metros. São os dois locais mais frios da Ibiapaba, com uma temperatura média de 21ºC", enfatiza Antônio Valdir.

A Ibiapaba guarda atrativos turísticos em todos os municípios, com trilhas e cachoeiras, com destaque para o Parque Nacional de Ubajara que, por sua vez, tem como atração a gruta formada por calcário moldado pelas águas subterrâneas. A gruta possui 1.120 metros de extensão, dos quais 420 estão iluminados artificialmente e abertos à visitação. No Parque também existem outras belezas como a cachoeira do Cafundó, no riacho Bela Vista; o Rio das Minas, com poços para banhos; o Centro de Visitantes, com biblioteca e sala de vídeo, exposição permanente com fotos e informações e a Gruta do Urso Fóssil, de apenas 130 metros, com fósseis de animais encontrados em seu interior.

Um comentário:

  1. Prezado pesquisador, descobrindo seu blog pelo GOOGLE, achei interessante seu comentário, só que estava procurando algo que mostrasse que o governo através das ematerces aqui de nossa região foi o grande fomentador para a devastação dessa mata atlântica, exatamente pelo incetivo do plantio do café a céu aberto, queria do amigo, se você tem algum documento que retrata esta ação promovida pelo governo.
    sds
    Luiz de
    88 96380303

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